domingo, 13 de junho de 2010

Linha 3 - Vermelha

Metro sentido Corinthians-itaquera.
Por volta da estação Santa Cecília entra um senhor.
Este senhor, denominado mendigo, veste um paletó de linho bem grosso, camisa social, calça também social, sapatos e chapéu de couro. Carrega consigo uma maleta.
O paletó já esta rasgado, a calça cheia de bolinhas. Sua camisa rosada tem manchas apretejadas nas mangas e colarinho. Os sapatos juntamente com o chapéu de couro marrom, estão carcomidos.
No banco que se sentou ninguém o acompanha. Somente os desavisados ou sem a capacidade de sentir de imediato o odor proferido.
Cansado dos que sentam ao seu lado o notar, e em específico olfativamente, resolve colocar sua mala - em igual estado ao dono - no acento ao lado.
Uma senhorita que o notou quando estava sentada ao lado do pobre via-se agora de pé, mas ainda ao redor. Incomodava-se demasiadamente com o odor lançado às voltas pelo mendigo.
Tão incomodada que era impossível não repará-la... E nele por conta dela.
De forma que o seu cheiro fosse sugestionado pela jovem ao vagão inteiro.
Graças a ela e seu notável incomodo o mendigo ameaça se retirar.
Ela se antecipa e desce na estação Carrão dramaticamente. E o mendigo desce uma estação depois.
O vagão toma de volta o costumeiro ofício de devolver os trabalhadores, estudantes, vagabundos, mendigos ou simples moradores da Zona Leste de São Paulo, as suas respectivas casas ou espaços.

sábado, 1 de maio de 2010

De imaginação enérgica a laudo psiquiátrico

Imaginava demasiadamente, pensava pouco, solucionava menos.
Não punha fim em nada. Tudo começava muito bem e depois, por medo talvez, abandonava.
Podia ter idéias originais, mas eram só idéias. Confusão e nada além.

Certa vez fingiu uma internação por conta de uma doença gravíssima, um câncer!
Ninguém descobriu onde estava internada e nem lhe fizeram uma visita, pois se esqueceu de dizer que estava em uma UTI na própria residência.

A internação não foi programada detalhadamente e nem inventada por maldade. Era só uma diversão, a representação de um papel que poucos veriam e que nenhum prêmio receberia.

Depois de certo tempo já não conseguia terminar nem de ver um filme. Não admitia os finais.
Tudo era uma desculpa para sua incoerência.

Anos mais tarde já esta afundada em seu imaginário. Fora dele padece.
E tem que lançar mão de tratamentos e remédios "receita azul" quando precisa se manter sob certa realidade, ou melhor, sanidade.
A insanidade é santa! É a pureza do ser.

Sabedoria dos que pouco se preocupam.

Quantos não dariam os dois dentes da frente para serem um pouco mais insanos?!

E a insanidade esta dentro dos que mais se dizem sãos.

domingo, 14 de março de 2010

Pedaço

Deus me arrancou um pedaço.
Desde então este pedaço me falta.
É pior que um membro perdido,
Pois se sangrar eu sangrarei também.
Se eu chorar, este pedaço chora comigo,
Se vou para longe, consigo estar em dois lugares.
Quando me aproximo, este pedaço me chama
E eu choro por tê-lo de volta
Mesmo arrancado, separado do meu corpo.
Como se esta parte fosse a unica que não poderia ter sido arrancada de mim,
Mas o fizeram de maldade.
Meu pedaço, minha filha, minha menina,
Minha Maria.